Alguns indivíduos, com diagnóstico de transtorno por uso de substâncias, demonstram pavor da abstinência, apesar de desejarem muito a sobriedade. Em parte, o medo do desconforto causado pela síndrome de abstinência física poderia explicar o desespero. Porém, não existe abstinência física no jogo, apesar de existir desespero igual frente a proposta de sobriedade. Qual seria a origem do vazio e tédio percebido?
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Na minha experiência clínica os principais fatores que fazem um jogador compulsivo, dependente de jogos de aposta, relutar em abraçar a recuperação são 1) o medo de renunciar à fantasia que ele/ela pode "corrigir" todos os malfeitos e prejuízos em um lance de sorte, em uma última e desesperada aposta; 2) o receio de que a vida sem o jogo torne-se monótona e desinteressante, enfim um tédio, o que para mim parece um equivalente da abstinência física dos dependentes de álcool e drogas. Além disso, uma pesquisa conduzida por nós no PRO-AMJO do Instituto de Psiquiatria da USP mostrou que os principais fatores de atraso para busca de tratamento são a vergonha e as tentativas repetidas de recuperar por meio do jogo, os prejuízos financeiros causados pelo próprio jogo.